sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Um Milagre de Natal

Natal é uma época do ano em que as pessoas boas ficam chatas e as pessoas chatas ficam mais chatas ainda. Natal é uma época do ano em que todos os cruzados anti-hipocrisia saem da toca e vão atacar gente que foi hipócrita como eles durante todo o ano. Natal é uma época do ano em que todo mundo que leu Dan Brown repete de forma papagaienta que Jesus não nasceu 25/12, que as festas cristãs são chupadas de festas romanas, simbologia, bla bla bla.

Mesmo assim eu gosto do Natal.

norad

Nos filmes sempre há um milagre de Natal. Eu só conheço um: A inspiração da época que torna as pessoas propensas a gestos e desprendimento fora de seu normal.

Como o clássico caso do Coronel Harry Shoup. Em 1955, auge da Guerra Fria, ele era comandante do NORAD, aquele centro de defesa aeroespacial da América do Norte (Canadá também faz parte) que todo mundo viu em Wargames.

Era época de Natal, todo mundo mais relaxado. Toca o telefone. “O” telefone, a linha direta que somente o Presidente e o Secretário de Defesa tinham. O Coronel Shoup atende. Do outro lado uma garotinha querendo falar com… Papai Noel. Depois de alguma pesquisa, descobriram que um anúncio da Sears saiu com número errado, e ao invés de apontar para a central criada para promover a loja, o “número do Papai Noel” apontava para a linha secreta do NORAD.

Tocado pelo espírito natalino, o Coronel Shoup colocou gente para ficar atendendo o telefone e falar com as crianças, que começaram a espalhar para os amigos. No ano seguinte as crianças voltaram a ligar, e já virou tradição. Hoje mais de 300 voluntários se revezam atendendo.

Daí surgiu outra tradição: Todo ano, na madrugada de 24 de Dezembro um alerta soa no NORAD, indicando um objeto em trajetória balística vindo em direção a América do Norte. O Comandante é avisado. Ele informa que é Papai Noel, e ordena darem livre passagem. A ocorrência é marcada nos livros de registro. Também são enviados caças para escoltar o trenó.

O NORAD tem um site feito por militares voluntários, o http://www.noradsanta.org, que acompanha Papai Noel, além do telefone, o 1-877-HI-NORAD.

Se uma estrutura criada com o único propósito de garantir a MAD – sigla em inglês de Destruição Mútua Assegurada - consegue parar por alguns minutos e se mobilizar para tornar a noite de algumas crianças mais mágica, tudo pode acontecer. E sim, É um milagre de Natal.

Por isso vejo o Natal como muito mais do que uma festa religiosa. Aliás, o componente religioso do Natal vem se tornando cada vez mais irrelevante. A figura do Papai Noel tem ocupado o espaço como ícone da festa, e muito bem. Sua mensagem é simples: “seja um bom menino”. Sua punição é com ausência. “não ganha presente”. Pronto. Nada de ameaças, castigos eternos, etc.

Às crianças ruins, a pior de todas as punições: Pararem de acreditar em Papai Noel. Perderem a magia. Descobrirem que há um homem atrás da cortina. Crescerem como adultos chatos que denunciam o comercialismo do Natal, mas não vão para a igreja porque afinal de contas “não são burros”.

Adultos que denunciam o comercialismo, mas esquecem de que presentear quem se gosta É uma coisa legal. Quem não reconhece o brilho no olho de uma criança quando ganha um brinquedo já é velho e inútil demais para se lembrar da sensação de ganhar um brinquedo.

Por isso fico com a alegria das crianças e o Espírito de Natal. Acredito que a maioria das pessoas NÃO se auto-iluda, e que mudem seu comportamento durante as Festas de Natal como uma forma de demonstrar não o que são (o que seria hipocrisia), mas em um legítimo esforço de mostrar como GOSTARIAM de ser.

A essas eu desejo Feliz Natal.

 Cardoso

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O Garoto que Domou o Vento

Esta é uma daquelas histórias que rendem filmes de Sessão da Tarde, mas ao contrário do excelente Céu de Outubro, a situação de William Kamkwamba era muito mais dramática.

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Ele nasceu e cresceu em Malawi, um daqueles países irrelevantes até mesmo para os padrões africanos. Tem 14 milhões de habitantes, baixa expectativa de vida, alta mortalidade infantil e AIDS. A renda per capita é de US$312,00. Só para comparar a do Brasil é de US$8.295,00.

Sua vila/aldeia não tinha saneamento básico, água corrente e muito menos eletricidade. É comum na África gente percorrer quilômetros a pé para recarregar celulares e rádios, e era o que William fazia.

Em 2002 aos 14 anos seus pais foram obrigados a tirá-lo da escola. Assolados pela fome a família não tinha como mantê-lo estudante. Mas Kamkwamba era um grande guerreiro, não no sentido militar -guerra não faz ninguém grande- mas no intelectual. Mesmo fora da escola ele continuou frequentando uma pequena biblioteca, de um só cômodo, bancada por doações do Governo dos EUA.

Nela ele viu um livro sobre moinhos de vento. Mesmo sem entender muito bem inglês, percebeu que aquilo era algo que ele conseguiria fazer. Percebeu que eletricidade era a chave para melhorar a condição de vida de sua família. Só 2% da população tem acesso ao recurso.

Durante 3 meses ele juntou peças de ferro-velho, bicicletas encontradas no lixo, estudou sobre magnetismo, condutores e dínamos. De posse do conhecimento repassado por Mestres a muito mortos, ele fez algo que deixaria Maxwell orgulhoso: Aplicou a Teoria e construiu um moinho de vento:



Antes do projeto ficar pronto, a turma que acredita que nada pode ser feito da primeira vez caiu de pau em cima do garoto, afinal um moleque de 14 anos, em um país insignificante da África ousar desafiar os Deuses da Mediocridade e construir algo, ao invés de sentar, reclamar e ficar recebendo calado a esmola em forma de doações da ONU?

Isso é uma afronta a todo mundo que escolheu o caminho mais fácil. Por isso Kamkwamba ouvia coisas como:

“Você é doido, acho que está fumando maconha demais”


Indignado o garoto respondia: “Vejam esta foto no livro! Esse moinho não caiu do céu, alguém construiu!”

Mesmo assim o projeto deu certo. O moinho gerava energia para televisão, eletrodomésticos, rádio, iluminação, recarregar celulares e o mais importante, bombear água.

Logo o moinho de Kamkwamba se tornou atração turística/funcional. Pessoas vinham de longe para carregar seus celulares, outros começaram a visitar a biblioteca, os sábios locais perceberam que a história precisava ser divulgada. Logo um jornalista apareceu e Kamkwamba teve seu feito publicado.

Graças aos blogs a notícia se espalhou mais ainda. Logo William Kamkwamba estava ensinando a construir moinhos, viajando pela África contando sua história, que foi parar nos ouvidos de Bryan Mealer, jornalista especializado na África.

Bryan passou mais de um ano juntando material, fazendo entrevistas e visitando os locais, até escrever “O Garoto que Domou o Vento”, contando toda a história.

O livro já está na lista de Best Sellers do New York Times. William Kamkwamba ganhou uma bolsa de estudos e está terminando seu Segundo Grau em Johanesburgo, na África do Sul, no Kings College.

Ele acaba de voltar de uma turnê nos Estados Unidos, apareceu em diversos programas, como o Daily Show. Quer fazer faculdade por lá, e eu aposto meu botão de block no Twitter que não faltarão Universidades oferecendo bolsas integrais.

Afinal de contas mesmo sendo um garoto que não foi alfabetizado em inglês, sem um centavo no bolso e praticamente sem comida em casa, William Kamkwamba tem INTELIGÊNCIA, o que (nem sempre) é algo reconhecido por seus pares.

Isso propiciou um currículo invejável. No mínimo tem que se respeitar alguém que faz uma apresentação no TED em Oxford, Inglaterra.

Ele conseguiu isso sem computadores, sem Internet, sem superstição, sem ódio nem raiva. Poderia ser mais um pregando caos e destruição, com seus AK47s virtuais ou não. Mas esses e seus gritos raivosos estão sempre destinados ao esquecimento.

Lembrado será William Kamkwamba, por mostrar que relevantes são os que CONSTROEM moinhos de vento, não os que os combatem.

E sim, ele tem conta no Twitter.

Carlos Cardoso

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

VIRGINIA - Bela,rica,poliglota... e fácil

A amante italiana de Napoleão III

virginia



Por dois anos a italiana Virginia Oldoini Verasis, condessa di Castiglione (1837–1899), foi a verdadeira imperatriz da França e do coração de Napoleão III. Enviada a Paris com a missão de seduzir o imperador, ela cumpriu rigorosamente o plano traçado pelo conde di Cavour, seu primo e primeiro-ministro de Vittorio Emanuele II, rei da Sardenha, que incluía os territórios do Piemonte e Saboia. Era preciso conquistar o apoio francês para enfrentar a inimiga Áustria e viabilizar o Risorgimento, o movimento que unificou a Itália. Entre 1856 e 1857, Virginia foi amante de Napoleão III e exerceu grande influência sobre ele. Tinha apenas 19 anos quando o conheceu. Recebia o imperador no apartamento da Avenida Montaigne onde morava, geralmente à tarde, duas ou três vezes por semana. Eles passavam horas juntos, discorrendo sobre assuntos pessoais e da Europa, França e, particularmente, Itália. Também falavam das coisas boas da vida, especialmente de bebida e comida. Animavam os encontros com taças de champanhe e refeições ligeiras, à base de patê de foie gras e brioches, queijo brie, consomê de faisão ou sopa de cebola, que a dona da casa aprendeu a preparar.

Alta e loira, com olhos entre o azul e o verde, dependendo da intensidade da luz que batia em seu corpo perfeito, rica, educada, inteligente, poliglota, culta, leitora incansável de romances, versada em teatro, ópera, artes plásticas, culinária e vinhos, orgulhosa e temperamental, ela encantou o imperador, mas não a mulher de Napoleão III, a espanhola Eugenia de Montijo, que chegou a mandar matá-la, atormentada pelo ciúme. Virginia foi, por algum tempo, a mulher mais admirada nos bailes e banquetes, nos quais ainda se destacava pela elegância nos gestos, as joias preciosas, os perfumes e as roupas – orgulhava-se de jamais usar duas vezes o mesmo vestido. Era uma mulher fatal. Enfeitiçava os homens pela beleza e disponibilidade com que se entregava a eles, sobretudo aristocratas e integrantes do mundo financeiro ou da cultura. Virginia nasceu em Florença, onde começou a namorar muito cedo e se casou nova com o marquês de Castiglione, 12 anos mais velho. Ele se uniu à moça avisado de seu comportamento sapeca. A união durou pouco.

Logo a jovem separada do marido passou a circular sozinha na corte de Vittorio Emanuele II, na qual foi considerada "uma das duas mulheres mais bonitas da Europa". A outra era Elizabeth de Wittelsbach, a Sissi, casada com o imperador austro-húngaro Francisco José I. As duas tinham a mesma idade. Sissi conheceu a rival em beleza e se impressionou, chamando-a de "estátua de carne". Mas, enquanto a mulher de Francisco José I dedicou a vida ao marido, Virginia colecionou amantes, entre os quais o banqueiro Rothschild, o rei Vittorio Emanuele II, o embaixador francês Constantino Nigra, o duque de Orleans, os irmãos Doria (trocou um pelo outro) e, segundo alguns, até o primo Cavour, incorrigível mulherengo. Dedicava apreço especial aos jogos do amor e da política. Seu relacionamento com Napoleão III ajudou Cavour, com o apoio da França, a conquistar a Lombardia e anexar a Itália central. Virou musa do Risorgimento e, neste ano, os italianos relembram os 110 anos de sua morte.

 Dias Lopes do Estadão

sábado, 19 de setembro de 2009

Norton 1, O imperador dos Estados Unidos

150 anos atrás era coroado o primeiro e único Imperador dos Estados Unidos da América, talvez o maior de todos os malucos-beleza. A história é comumente tomada como ficção, por ter sido popularizada em Sandman, de Neil Gaiman, mas é incrivelmente verdadeira.

Norton



Joshua Abraham Norton era um inglês morador dos EUA que foi muito rico, até perder tudo em um investimento mal-planejado, importando arroz do Peru. A batalha judicial com os credores o desestabilizou mentalmente, a ponto de sumir do mapa, levando anos para voltar a São Francisco.

No dia 17 de Setembro de 1859 ele enviou uma proclamação a vários jornais, onde se declarava Norton I, Imperador dos Estados Unidos. Achando que era brincadeira, alguns publicaram.

Outros decretos se seguiram, onde ele dissolvia o Congresso, dava ordens ao exército, etc. Claro, ninguém prestava atenção. Era apenas um sujeito arruinado, quase um sem-teto, vivendo em um quarto de pensão cuja diária custava 50 centavos.

Só que Norton era uma figura extremamente simpática. Ao invés de expulsá-lo os comerciantes o recebiam bem. Com o tempo o Imperador virou figura folclórica. Ele coletava impostos (geralmente 50 centavos) e era convidado a comer nos melhores restaurantes.

Depois disso placas de bronze eram colocadas na porta, dizendo “Indicado por Sua Majestade Norton I, Imperador dos EUA”. Isso aumentava a freguesia, e logo Norton tinha mais convites do que tempo. Peças e Concertos sempre reservavam um camarote para ele.

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Fora os “impostos” a única fonte de renda de Norton eram seus bônus imperiais e papel-moeda. Não só o dinheiro que ele emitia era considerado item de colecionador, como vários estabelecimentos comerciais aceitavam as notas.

Norton inspecionava os bondes, escolas e vias públicas, mantinha correspondência com outros monarcas e dizem até ter se encontrado com Dom Pedro II. Seus decretos iam dos mais loucos a ordens como criar uma Liga das Nações e construir uma ponte na Baía de São Francisco – considerado na época uma idéia doida.

Ele usava um fardão imperial, doado por um general do Presídio de São Francisco, quando ficou rasgado demais, ele ganhou outro, da municipalidade.

No censo de 1870 ele aparece listado como “Imperador”.

Em 1867 Norton foi preso por um policial babaca de nome Armand Barbier, que o tentou levar para um manicômio, para internação involuntária. Uma série de editoriais nos jornais atacou a atitude do filho da puta. Norton foi solto, e Patrick Crowley, Chefe de Policia fez um pedido de desculpas formal para o Imperador, em nome de toda a Força Policial:

“Ele não derramou nenhum sangue, não roubou ninguém, não pilhou país nenhum. Isso é mais do que pode ser dito de outros Imperadores”

Depois disso todos os policiais de São Francisco passaram a saudar o Imperador, quando passavam por ele nas ruas.

Em 8 de Janeiro de 1880 aos 61 anos Norton estava a caminho da Academia de Ciências da Califórnia, onde faria uma palestra, quando teve um ataque e morreu, na rua. Os jornais estamparam manchetes com o falecimento. O San Francisco Chronicle publicou “Le Roi Est Mort”, junto com um lindo e respeitoso obituário.

Todos sabiam que ele era um louco que se achava Imperador, mas um maluco inofensivo e querido, que nunca mostrou ganância, crueldade ou má-intenção. Norton era o pequeno agente provocador, a pequena dose de aleatoriedade que torna a vida menos monótona. E também não era nenhum golpista, como alguns chatos alegavam.

Suas posses se resumiam a uma coleção de chapéus, cinco ou seis Dólares em moedas, US$2,50, uma bengala, uma espada e alguns papéis. Ele ia ser enterrado como indigente, mas a Câmara de Comércio da cidade intercedeu e pagou por um funeral digno. Norton I Imperador dos Estados Unidos foi enterrado com honras de chefe de estado. Seu cortejo foi formado por 30 mil pessoas e teve mais de 3Km de extensão.

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Sua lápide traz “Norton I Imperador dos Estados Unidos e Protetor do México”

Joshua Norton mostrou que você não precisa nem sequer ser são para fazer do mundo um lugar melhor.

Carlos Cardoso